sábado, 1 de dezembro de 2012

Será que?

1 de Dezembro de 2012. 
   Uma data que há um ano atrás seria importante e recordada com felicidade. Será que ainda o é?
Quando soaram as doze badaladas do relógio da vizinha que significava que teria chegado aquele dia, continuava perplexa a olhar para aquela moldura e a ouvir uma música clássica.
   Será que lhe deveria desejar os parabéns? Ou será que já não faria sentido? Será que ele iria entender? Ou até mesmo ouvir?
   Remexi-me na cama, apaguei as luzes e dei comigo num ambiente escuro mas não tão escuro como a minha cabeça. Por ela passaram mil e uma imagens mas não consegui captar nenhuma. Passavam numa velocidade devastadora como se derrubassem tudo o que se atravessa-se no seu caminho.
   Bip.. Bip.. Apenas aquele som me salvava e me trazia segurança, esperança. Aquelas mensagens que lia, essas, eram a minha fonte de sobrevivência. Não falo apenas das palavras mas também da pessoa que as enviava. Os olhos começaram a pesar, as sequelas do choro intensivo começavam a aparecer e quando dei por mim, estava embrulhada num sono profundo.
  - 'Estúpido!' - Dizia eu, por não me deixar fazer o que eu queria.
  - 'Isso não se diz' - Afirmava, com a máquina de filmar na mão, num tom paciente e um tanto afetado.

  - 'Desculpa..' - Respondi num tom afetuoso e arrependido.
  - 'Não desculpo!' - Disparou.´
Tal como a minha mãe dizia, às vezes conseguia ser mais criança que eu, o que era um tanto vergonhoso visto que eu apenas tinha 3 anos. Aquele episódio não me era indiferente, eu conhecia-o. Estava a sonhar certamente e a reviver memórias. Aquilo estava gravado, eu sabia e também sabia que já tinha assistido à gravação.
  Quando abri os olhos, a luz do visor do telemóvel fez com que estes ficassem afetados. Nove horas e quarenta e três minutos. Quis levantar-me mas não tive forças, decidi ficar na cama. Pequenos raios de luz espreitavam por entre as pequenas brechas do estore e iluminavam a escuridão que existia na noite passada,
  Bip... Aquele som outra vez. Agradeci por me ter salvo o quanto antes pois era daquele som, era dele que eu precisava. Levantei-me, arrumei o quarto, tomei um banho e quase as duas horas estava no restaurante.
O mesmo onde estive presente no ano anterior mas desta vez foi diferente. Terminado o almoço,  fui ao tão esperado sítio.
  Era calmo, como sempre. Se dissesse que estavam lá no máximo cinco pessoas estaria a mentir. Dirigimos-nos ao local e ficámos por volta de dez ou quinze minutos. Tive de me afastar e atravessei o corredor, deixando-as um pouco mais a frente. Quando me perguntaram se eu iria embora, eu pedi para lá ficar mas desta vez, sozinha, poderiam esperar-me no carro ou à porta.
  Algo que já me atormentava o pensamento há algum tempo. Será que devia? Será que me iria fazer melhor? Decidi arriscar. Enquanto elas se dirigiam para a saída, eu avancei em direção ao meu alvo. 
  Pedi à minha fonte de esperança e segurança para esperar uns minutos, ajoelhei-me e as lágrimas começaram a escorrer compulsivamente. Apetecia-me chamar todo o tipo de nomes, gritar, revoltar-me mas apenas me escapou um 'tenho saudades tuas' produzido com uma voz rouca e quase insonoro.
  Fiquei nisto uns 10 minutos e de seguida levantei-me, limpei a cara com o lenço de papel, virei costas e afastei-me. Metros a frente, lá estavam elas, à minha espera. Dirigimos-nos para o carro, parámos no mercado e a próxima paragem seria a minha predileta, a nossa casa. 
  Aterrei na minha cama e fiquei a olhar para as fotografias que tinha na minha mão. O meu bip de salvação acompanhou-me o dia todo e isso deu-me, tal como em todos os dias, força para continuar. As lágrimas apareceram, inundando-me os olhos. Parei para pensar e apenas uma frase soou na minha cabeça...

                          "Pai, porque é que foste tão cedo? Este deveria ser o teu dia!"
  
  Mas apesar de tudo, continuava, continua e continuará a ser, pois para mim, ele estará sempre aqui, de maneira diferente mas com a mesma importância.

                                                                                              Até um dia Pai!



Autoria de: Carolina Gomes.