domingo, 23 de junho de 2013

O que raio se passa aqui?!

Começou a partir daquele dia, no dia em que foste embora. A tua partida mudou as pessoas, os acontecimentos e até as relações.
Parece que, quando a tua presença foi arrancada, levou tudo o resto. A vida tornou-se amarga, dolorosa, estranha e um tanto sombria.
Não éramos uma família típica muito menos perfeita, tínhamos algumas divergências mas que acabavam por culminar em momentos marcantes. Choramos, rimos, discutimos mas apesar de tudo, amava-mo-nos uns aos outros.
Agora está tudo tão diferente, tão cheio de raiva, rancor e dúvidas.. Já pensei que fosse só os primeiros tempos mas depois, vi claramente que é de fases, boas e más.
Sabes que eu e a nossa pirralha sempre tivemos os nossos momentos, cinco minutos estávamos a brincar e nos seguintes, cada uma para seu lado de 'trombas postas'.
Talvez tu atenuasses um pouco as coisas e agora estamos a revelar os verdadeiros laços e relações.. Ou então estas 'fases' sejam por tentarmos por a culpa da tua ida nas outras. Sinceramente não sei, não sei de nada. A minha cabeça encontra-se cheia de pontos de interrogação, de pó..
Eu e ela? O que resta das discussões, agressões verbais, entre tudo o que se passa connosco? Nada, pura e simplesmente o nada. Não entendo como mudou tudo, como algo tão forte, único pode mudar de um momento para o outro.
Sabes como eu era tão dependente dela, de quando estive na colónia de férias.. O que mais me custou foi estar longe de vocês os três, mas principalmente dela, de ser protegida pela minha mamã! Como é que uma relação de mãe e filha, forte como uma corrente de aço, pôde enfraquecer os elos assim, fazendo com que tudo desabasse.
Aposto que consegues ver o quanto isto me está a destruir, a matar por dentro. Magoa tanto, tanto e parece que nunca vai acabar. Se alguém me conseguisse ler o pensamentos teria medo pois, a minha mente tornou-se um local tão sombrio, cheio de remorsos.
Ponho-me a pensar 'o que raio faço eu para isto acontecer? porque é que eu sinto que ela não gosta de mim? o que é que ainda faço aqui?'. Isto resulta num enrolar de ideias e num choro que parece não acabar, apenas quando fico cansada e apago.
Queria tanto que isto muda-se, que fosse diferente.. Não digo igual, antes à tua partida mas, que fosse melhor que agora. 
Quero a minha 'mamã' de volta!

Beijinhos Pai, 
Carolina Gomes

sábado, 1 de dezembro de 2012

Será que?

1 de Dezembro de 2012. 
   Uma data que há um ano atrás seria importante e recordada com felicidade. Será que ainda o é?
Quando soaram as doze badaladas do relógio da vizinha que significava que teria chegado aquele dia, continuava perplexa a olhar para aquela moldura e a ouvir uma música clássica.
   Será que lhe deveria desejar os parabéns? Ou será que já não faria sentido? Será que ele iria entender? Ou até mesmo ouvir?
   Remexi-me na cama, apaguei as luzes e dei comigo num ambiente escuro mas não tão escuro como a minha cabeça. Por ela passaram mil e uma imagens mas não consegui captar nenhuma. Passavam numa velocidade devastadora como se derrubassem tudo o que se atravessa-se no seu caminho.
   Bip.. Bip.. Apenas aquele som me salvava e me trazia segurança, esperança. Aquelas mensagens que lia, essas, eram a minha fonte de sobrevivência. Não falo apenas das palavras mas também da pessoa que as enviava. Os olhos começaram a pesar, as sequelas do choro intensivo começavam a aparecer e quando dei por mim, estava embrulhada num sono profundo.
  - 'Estúpido!' - Dizia eu, por não me deixar fazer o que eu queria.
  - 'Isso não se diz' - Afirmava, com a máquina de filmar na mão, num tom paciente e um tanto afetado.

  - 'Desculpa..' - Respondi num tom afetuoso e arrependido.
  - 'Não desculpo!' - Disparou.´
Tal como a minha mãe dizia, às vezes conseguia ser mais criança que eu, o que era um tanto vergonhoso visto que eu apenas tinha 3 anos. Aquele episódio não me era indiferente, eu conhecia-o. Estava a sonhar certamente e a reviver memórias. Aquilo estava gravado, eu sabia e também sabia que já tinha assistido à gravação.
  Quando abri os olhos, a luz do visor do telemóvel fez com que estes ficassem afetados. Nove horas e quarenta e três minutos. Quis levantar-me mas não tive forças, decidi ficar na cama. Pequenos raios de luz espreitavam por entre as pequenas brechas do estore e iluminavam a escuridão que existia na noite passada,
  Bip... Aquele som outra vez. Agradeci por me ter salvo o quanto antes pois era daquele som, era dele que eu precisava. Levantei-me, arrumei o quarto, tomei um banho e quase as duas horas estava no restaurante.
O mesmo onde estive presente no ano anterior mas desta vez foi diferente. Terminado o almoço,  fui ao tão esperado sítio.
  Era calmo, como sempre. Se dissesse que estavam lá no máximo cinco pessoas estaria a mentir. Dirigimos-nos ao local e ficámos por volta de dez ou quinze minutos. Tive de me afastar e atravessei o corredor, deixando-as um pouco mais a frente. Quando me perguntaram se eu iria embora, eu pedi para lá ficar mas desta vez, sozinha, poderiam esperar-me no carro ou à porta.
  Algo que já me atormentava o pensamento há algum tempo. Será que devia? Será que me iria fazer melhor? Decidi arriscar. Enquanto elas se dirigiam para a saída, eu avancei em direção ao meu alvo. 
  Pedi à minha fonte de esperança e segurança para esperar uns minutos, ajoelhei-me e as lágrimas começaram a escorrer compulsivamente. Apetecia-me chamar todo o tipo de nomes, gritar, revoltar-me mas apenas me escapou um 'tenho saudades tuas' produzido com uma voz rouca e quase insonoro.
  Fiquei nisto uns 10 minutos e de seguida levantei-me, limpei a cara com o lenço de papel, virei costas e afastei-me. Metros a frente, lá estavam elas, à minha espera. Dirigimos-nos para o carro, parámos no mercado e a próxima paragem seria a minha predileta, a nossa casa. 
  Aterrei na minha cama e fiquei a olhar para as fotografias que tinha na minha mão. O meu bip de salvação acompanhou-me o dia todo e isso deu-me, tal como em todos os dias, força para continuar. As lágrimas apareceram, inundando-me os olhos. Parei para pensar e apenas uma frase soou na minha cabeça...

                          "Pai, porque é que foste tão cedo? Este deveria ser o teu dia!"
  
  Mas apesar de tudo, continuava, continua e continuará a ser, pois para mim, ele estará sempre aqui, de maneira diferente mas com a mesma importância.

                                                                                              Até um dia Pai!



Autoria de: Carolina Gomes.

sábado, 25 de agosto de 2012

A beleza escondida nos dias iguais

  Outro dia igual a muitos na minha vida.
  Eram sete horas quando o despertador tocou e interrompeu o silêncio profundo que existia no meu quarto. As crianças já se tinham levantado e gritavam por mim.
  Precisava de recuperar do sono para me levantar, mas não consegui fazer, pois o barulho que vinha do quarto dos meus filhos era imenso.
  Tirei uma perna de cada vez da cama, calcei os chinelos e dirigi-me para a cozinha, onde o meu marido preparava o pequeno-almoço. Deu-me uma chávena de café quente, uma torrada e sentou-me na mesa.
  Demorei cinco minutos a comer e, de seguida, percorri o corredor até chegar ao quarto de Marta e Iuri, os meus dois filhos gémeos. Estes discutiam por causa de um livro de banda desenhada.
  Retirei o livro da mão da minha pequena e coloquei-o na estante. Abri o armário, do qual retirei dois pares de meias, dois calções e duas camisolas. Ajudei-os a prepararem-se para a escola e encaminhei-os para a cozinha, onde pegaram nos almoços e os colocaram nas pequenas mochilas.
  Correram para a porta, calçaram-se e dirigiram-se para o carro. Era sempre que os levava porque o meu marido entrava muito cedo. Quando parei o carro, os pequenos deram-me dois beijos enormes e quando se preparavam para sair, regressaram atrás e disseram em coro: 'Adoramos-te mamã!'.
  Reparei nesse momento que eram eles que mudavam o rumo dos meus dias monótonos.

Autoria de: Carolina Gomes

bem me quer, mal me quer

Sentada no muro, enrolada apenas num enorme manto branco, dispo a pequena e frágil flor que tenho entre mãos.
Repito as palavras, cada pétala vai escorregando e aterrando no chão.
Acabo de citar uma palavra, deixo cair a última pétala branca e um cheiro nauseabundo invade o espaço onde me encontro.
Olho para o meu lado, algo sujo e com olhos a lacrimejar me estende a sua mão.
Eu estendo a minha e o rapaz alto, de cabelo grisalho e cheio de lama, puxa-me contra o seu corpo ardente.
Os nossos olhares cruzam-se e as nossas respirações estão aceleradas, até que ele se aproxima mais do meu rosto e os nossos lábios encaixam-se na perfeição.
'Bem te quero' diz ele.


Autoria: Carolina Gomes

amnésia?


Hoje acordei e senti que era o dia, sim é hoje!

Vou contar-lhe, bolas. Já ando há 6 meses para lhe dizer o que sinto por ela, e hoje é o dia.
Vesti-me a correr, calcei-me e lavei-me. Desci para a cozinha, peguei num bolo e comi-o de enfiada.
Procurei as minhas chaves e corri para o carro, acho que ia ser a viagem mais distante e assustadora que já alguma vez tinha feito.
Tinha um conjunto de animais voadores a corroer-me o estômago, já para não falar nos nervos.

'E se ela se rir? E se ela fugir? E se ela me odiar?' - pensava eu para mim próprio.

Quando dei por mim estava a porta de casa dela e confesso que estou com medo.
A Chloe é a rapariga mais querida, especial, simpática e amiga que há no mundo e eu sou só um rapaz normal.
Apaixonei-me por ela desde o dia em que a conheci no supermercado, foi um episódio divertido. 
Chocámos um contra o outro e sem reparar-mos, trocámos os carrinhos de compras. Acabámos num café à beira da estrada, a beber cappucino.
Depois desse dia, começámos a sair e tão rapidamente, tornarmos-nos melhores amigos.
Mas eu sempre tive outro tipo de carinho para com ela, coisa que ela nunca soube, até hoje..
Agora estou parado no meu carro, com as chaves na ingnição e pensar se devo ir.

'Sê forte e tu consegues!' - recordei o que o Paul disse e saí do carro.

Dirigi-me para a porta do seu prédio, toquei à campainha e ela abriu. Antes que a deixasse falar disse:

'Eu amo-te e sempre te amei, desde o dia em que nos conhecemos! És tão especial para mim e sei que para ti não devo passar de teu melhor amigo, mas eu tinha de dizer isto, portanto ..' - gaguejei um bocado ao dizer isto e depois fechei os olhos, pois temia a sua resposta.

'Eu achei lindo o que me disseste mas.. quem és tu?' - disse ela.

O meu coração caiu juntamente com as minhas lágrimas e o meu queixo. Como é que ela não se lembrava de mim? Estaria eu enganado e tinha vivido até ali numa ilusão?
Depois olhei para cima do seu grande piano e lá estava, uma fotografia nossa a jogar bowling na noite do seu aniversário. Agarrei na fotografia e mostrei-lha mas ela pareceu confusa.

'Perdeu a memória? Tenho de a levar para o hospital e tentar entender o que se passa com ela' - pensei para mim.

Peguei nas chaves, agarrei-a no braço e meti-a dentro do carro. Ela estava tão frágil que desmaiou.
Fiz-me à estrada em direcção ao hospital e chegando lá, informei do que se tratava e uma mulher de estatura média, ruiva e de olhos castanhos, meteu Chloe numa maca e desapareceu para dentro de uma grande sala em tons agoniantes de verde-pastel e branco.
Sentei-me na pequena sala de espera, as lágrimas corriam-me pela cara e o cansaço era tanto que acabei por adormecer.

'Senhor, desculpe.. Senhor..' - ouvi uma voz dizer lá ao fundo.

Recuperei os sentidos e vi um rapaz de bata verde à minha frente.

'Como está ela? Já se lembra de mim?' - perguntei eu, meio atordoado.

'Ela já recuperou os sentidos mas eu quero falar consigo antes de entrar' - respondeu o enfermeiro.

'Diga, diga' - pedi eu, impaciente.

'A paciente sofre de uma doença que já ouviu falar de certo' - afirmou ele.

'Doença? Mas como? Ela nunca tinha estado assim!' - respondi eu, ficando impaciente.

'Por vezes não nos apercebemos, pois nesta doença não existem sintomas.' - disse-me ele - 'E a paciente sofre de amnésia.'

'Amnésia?' - perguntei eu de olhos arregalados.

'Sim, por isso é que ela se esqueceu de si quando a foi visitar.' - respondeu ele, dando-me uma palmadinha nas costas - 'E já pode entrar, ela está a sua espera.'

Levantei-me repentinamente e quase corri para a sala. Havia uma grande cama branca com uma rapariga que devorava um pudim.

'Liam, que bom estares aqui, já te informaram do meu problema, certo?' - questionou ela.

Afirmei com a cabeça e as lágrimas estavam prestes a cair.

'Olha, eu não sei o que é que tu foste fazer lá a casa mas eu tenho algo para te contar..' - afirmou.

'Diz?' - pedi eu.

'Bem, desde que te conheço que me apaixonei por ti. Pode parecer parvo e tu não gostares de mim da mesma maneira mas..' - antes que ela terminasse, tapei-lhe a boca com a minha mão.

'Eu fui a tua casa para te dizer exactamente o mesmo' - respondi.

Ela endireitou-se na cama, juntou-me a ela e beijou-me.

'Amnésia, dizem eles?' - gozei.

estou de volta

Bem, eu tinha um blog antigo mas sinceramente já não me recordo do email e da password em que ficou registado por isso resolvi criar um novo. Obrigada pela paciência.

something new

Estava um dia chuvoso e acabava de ter uma enorme discussão com o meu irmão. Saí de casa a correr, com os olhos banhados por lágrimas que, juntamente com as grossas gotas de chuva, me cegavam por completo.
Sabia de um sítio onde iria ser bem recebida, queria chegar a casa dele, onde me sentiria segura.
O tempo passava lentamente por mim à medida que caminhava nas ruelas mas lá cheguei ao meu destino. Bati à porta, ouvi passos e depois uma voz que era reconfortante perguntou: "quem é?" e a minha voz fraca respondeu: "tu sabes".
O trinco da porta abriu e esta foi puxada para trás, vi um vulto correr rapidamente até mim. Uma pele quente juntou-se à minha pele gélida, num apertado abraço. O vulto retirou a camisola e enrolou-a à minha volta, e nesse preciso momento, os meus sentidos foram a baixo. Desmaiei, ali mesmo.
Sentia agonia, sentia frio talvez causado pelo medo não sei bem de quê. Sentia-me uma rocha, sentia-me vazia e um tanto confusa com o que se passava naquele sonho ou talvez realidade. Sombras com formas abstractas iam-se aproximando e apoderando-se do meu corpo vazio. Gestos sem sentido, palavras ditas em tom de socorro mas nada acabava com aquele sentimento. Uma sobra, com uma voz misteriosa e talvez doce disse "abre os olhos". No instante seguinte, senti partículas de luz entrarem no meu campo de visão aos poucos e poucos.
Uma silhueta encontrava-se sentada numa cadeira velha de madeira a uma curta distância de mim. Levantei-me da cama, sentia a cabeça andar à roda e destapei-me. Pus os pés no chão, mas ao tentar-me levantar não tive força nas pernas e caí sobre a cama. O mínimo barulho da queda acordou-o e olhou directamente para mim.
- "Como te sentes" - perguntou ele.
- "Melhor." - disse, mentindo. Por dentro, tinha algo que andava de um lado para o outro, sentia esta coisa na zona da minha barriga mas não sabia o que era. Era algo novo, algo que nunca tinha sentido até ali.
Ele dirigiu-se à cama, sentou-se a meu lado e pôs o braço em torno do meu tronco. A minha respiração acelerou. Outro sentimento novo? Não entendia o que se passava comigo. Senti os seus lábios quentes beijarem-me a testa, depois a ponta do nariz, de seguida a face. Os meus olhos fecharam-se automaticamente. Sentia-me quente como se estivesse com 40º de febre. Passado alguns segundos conseguia sentir a sua respiração junto da minha boca e ouvi "amo-te". Os nossos lábios juntaram-se e consegui perceber pela pequena palavra, aqueles sentimentos novos que me enervavam por não saber o que eram.

autoria de: Carolina Gomes